IA e automação: Limites, riscos e como evitar armadilhas garantindo governança e segurança.

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A adoção de IA e automação em áreas internas de suporte e decisão como jurídico, compliance, RH, financeira, comercial e afins, deixou de ser conversa de futuro. Já está no centro da operação de muitas empresas. Só que, em boa parte dos casos, a tecnologia avançou mais rápido do que a governança. E é aí que nascem as armadilhas.

De um lado, existe a pressão por eficiência: menos tempo gasto respondendo às mesmas perguntas, menos retrabalho, menos e-mail. Do outro, áreas que lidam com temas sensíveis: normas internas, políticas de pessoas, riscos legais, contratos, preços, relacionamento com clientes e órgãos reguladores.

Quando IA e automação entram nesse ambiente sem limites claros, o problema não é apenas um bug de sistema. É um passivo de confiança, jurídico, operacional e reputacional.

A pergunta não é mais se as áreas vão usar IA (já falamos bastante sobre isso por aqui, mas é sempre bom reforçar!), mas em que condições.

IA e automação – Onde geram valor e onde começam os riscos

Nas áreas consultivas e de apoio à decisão, a IA já mostra valor real em várias frentes:

  • Classificar e priorizar demandas que chegam por múltiplos canais
  • Responder dúvidas recorrentes sobre políticas internas, contratos, regras comerciais, procedimentos de RH
  • Organizar e buscar informações em bases extensas de documentos, normativos e pareceres anteriores
  • Sugerir respostas ou minutas iniciais com base em conhecimento oficial da empresa
  • Automatizar fluxos simples de aprovação, encaminhamento e registro

Isso libera tempo de especialistas, reduz o volume de tarefas repetitivas e melhora a experiência do “cliente interno”, que para de depender de e-mails intermináveis para ter respostas básicas.

O problema começa quando essa mesma IA passa a influenciar decisões de alta consequência sem governança proporcional. Alguns exemplos que já são realidade em muitas organizações:

  • Recomendações sobre tratamento de incidentes, descontos comerciais relevantes ou concessão de benefícios, sem trilha clara de como a conclusão foi construída
  • Priorização de casos críticos (denúncias, litígios, disputas comerciais) por modelos que ninguém consegue explicar
  • Cruzamento de dados sensíveis de pessoas, clientes ou fornecedores em serviços externos, sem política robusta de privacidade e segurança
  • Dependência de soluções de terceiros que operam como caixas-pretas, em temas que não admitiriam falta de transparência diante de uma auditoria ou investigação

Nesses cenários, o risco não é teórico. Ele aparece justamente quando a empresa mais precisa provar que agiu com critério, proporcionalidade e isenção.

Os riscos que ficam escondidos atrás do discurso de eficiência

O discurso comum é sedutor: “vamos usar IA para tornar as decisões mais ágeis, consistentes e inteligentes”. Mas, sem governança, alguns riscos emergem rápido:

1. Decisões não auditáveis
2. Uso indevido ou exposição de dados sensíveis
3. Erros em escala
4. Terceirização cega da responsabilidade

Não é à toa que conceitos como “AI governance”, “monitoramento em tempo real” e “cyber-resiliência” aparecem com destaque entre as grandes tendências de compliance e gestão de risco para 2025–2026, segundo análises de mercado especializadas.

Definir limites: onde a IA decide, onde recomenda e onde não entra

Um passo decisivo para qualquer liderança é explicitar os limites da IA em sua organização. Na prática, isso pode ser traduzido em três níveis:

  • Nível 1 – Automação com baixo risco
    Rotinas repetitivas, com regras claras e pouca margem de interpretação: tirar dúvidas sobre políticas estáveis, direcionar um chamado para a área correta, recuperar um documento, registrar um pedido simples. Aqui, a IA pode atuar com alto grau de autonomia, desde que treinada com fontes oficiais.
  • Nível 2 – Apoio à decisão em temas com nuances
    Situações onde existem critérios objetivos, mas o contexto e o impacto pedem olhar mais cuidadoso. A IA pode sugerir interpretações, comparar cenários, organizar informações e propor caminhos, mas a decisão final é de um responsável humano, identificado.
  • Nível 3 – Questões de alto impacto
    Temas com forte impacto jurídico, reputacional, financeiro ou de pessoas. Nesse campo, a IA pode ajudar com análise, triagem, priorização e consolidação de dados, mas não deve atuar como “decisor silencioso”. O juízo final precisa ser humano, com responsabilidade clara e trilha de auditoria.

Esse tipo de desenho não tem nada de futurista. É apenas a tradução da boa prática de gestão de risco para um contexto em que a tecnologia está no centro da operação.

Governança aplicada – Do slide para o dia a dia

Falar em governança de IA é fácil. O desafio é incorporar isso à rotina. Nas empresas que estão avançando com maturidade, alguns elementos costumam aparecer em comum:

  • Diretrizes claras por tipo de área e uso
    Em vez de uma política genérica de “uso de IA”, existem orientações específicas para áreas como jurídico, RH, compliance, financeiro e comercial, com exemplos concretos do que pode e do que não pode ser automatizado.
  • Catálogo de casos de uso aprovados
    Uma espécie de inventário vivo, listando onde a IA está sendo aplicada, com dono de processo, fontes de dados usadas, impactos esperados, riscos mapeados e periodicidade de revisão.
  • Monitoramento contínuo de comportamento
    Modelos e automações são acompanhados em produção, e não apenas na fase de implantação. Mudanças no perfil das demandas, padrões inesperados e possíveis vieses são analisados de forma recorrente.
  • Logs e trilhas de decisão
    Não basta saber o resultado final; é preciso conseguir reconstruir o caminho. Isso inclui quais dados foram consultados, que regras foram aplicadas, qual foi o papel da automação e qual foi o papel da aprovação humana.
  • Segurança e resiliência por desenho
    Segurança não entra no fim, como “camada adicional”. Ela é parte do desenho da solução desde o início: controle de acesso, segregação de ambientes, criptografia, anonimização quando necessário, planos claros para resposta a incidentes.

Quando esses elementos existem, a discussão sobre IA deixa de ser um dilema entre “travar” ou “liberar” tecnologia. Passa a ser um debate sobre qual risco é aceitável em cada contexto e sob quais salvaguardas.

Evitar armadilhas e capturar valor de forma sustentável

A boa notícia é que não é preciso escolher entre ser eficiente e ser responsável. É possível ter os dois, desde que a ambição de ganho de produtividade venha acompanhada de um mínimo de disciplina.

Nos projetos em que IA e automação realmente transformam o dia a dia das áreas internas, algumas características aparecem de forma recorrente:

  • O objetivo é claro e mensurável: menos tempo em tarefas repetitivas, melhor experiência interna, mais consistência nas respostas, maior visibilidade sobre o fluxo de demandas.
  • O conhecimento usado é oficial, curado e versionado, em vez de um conjunto difuso de documentos antigos e contraditórios.
  • As pessoas sabem quando estão interagindo com um agente de IA, quando há revisão humana e como escalar casos sensíveis.
  • A liderança entende que governança, explicabilidade e segurança não são entraves, mas sim pilares essenciais para que a solução seja sustentável e defensável a longo prazo.

Para aprofundar como isso se traduz na prática e como a automação certa pode liberar tempo real do time, vale ler também este artigo:
Do “mais do mesmo” ao consultivo que movimenta o negócio: como a automação certa libera 50% do tempo do seu time.

A questão para as lideranças não é se vão adotar IA nessas áreas, mas que tipo de cultura, de limite e de disciplina vão colocar em volta dessa adoção.

É isso que vai separar quem apenas “implantou IA” de quem realmente mudou a forma como as decisões são tomadas com mais escala, mais transparência e mais confiança entre as áreas e a organização como um todo.

Por: Asklisa

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